sexta-feira, 25 de março de 2011



   Sempre olhei para vida como um curso, como um rio que chega ao seu fim, mas nunca pensei realmente no fim. Talvez tivesse medo de pensar no que pode ser, e não ser.
  Quando eu nasci era apenas um ser frágil,que aos poucos foi se fixando,criando raízes, firmando-se aos pouquinhos, e em um pulo, virei uma trepadeira, roubando lugares, abrindo espaços, fechando. Seguindo uma trajetória inconstante pelos dias e meses afora, seguindo um caminho longo ou curto, do qual não aceita previsões.
   Mas ao passar do tempo parei para pensar nos meus passos, e peguei-me aflita pensando como vim parar aqui, é como se tivesse dormido por um longo tempo e acordei em outro corpo, em outro lugar, tendo a vida de outra pessoa, com novos sentimentos, gostos, visões. E de repente que medo, que medo que me deu viver, que medo que deu não viver, fiquei perdida em dois pensamentos, perambulando de dois lados, sem saber para onde me movimentar, em que direção ir.
   Viver é uma tarefa difícil, parece que você foi jogado no mundo sem saber qual é o verdadeiro sentido de estar aqui, se é que existe algum, mas as pessoas não notam como a cada dia você constrói um pouco de si,descobre motivos para continuar nessa loucura.E acaba se dando falta de tantas coisas que passaram,e acaba tendo medo de sentir falta das que não vão chegar.
  Imaginei não acordar amanhã,morrer quem sabe,deixando de me levantar, escovar os dentes, trocar de roupa, pegar o ônibus e ir completar toda a rotina de um dia monótono e ao mesmo tempo cansativo. Imaginei não realizar meus planos, não me ver daqui a 20 anos, ou nunca saber como terminou aquele romance. Não saber como vai ser os objetos da minha futura casa, quantos filhos terei, ou não terei, a onde vou morar em que bairro hei de estar. Nunca mais ver o céu, os apressados na avenida, ou nunca mais passar olhando vitrines,sem olhar vitrines.
  E se eu não acordar amanhã, ei me diga, como vai continuar a vida?

segunda-feira, 21 de março de 2011





Agora sinto medo, medo de perder as minhas lembranças, as minhas saudades, aquilo que acredito e não acredito medo de todas as partes se desprenderem de uma vez só, e só sobrar matéria, sem conteúdo.
 Tentando não romper com todas as coisas sólidas nas quais existe no agora, nesse agora que se perde a cada segundo.
   E em um pulo você se decepciona com as coisas em sua volta, com as pessoas, os sonhos, com a mágica de fantasiar ações. Estando tão cansada de construir e demolir fantasias que gostaria de não se encantar por mais nada. Mesmo sabendo que isso se aplica as fases e gostos, e principalmente à momentaneidade da vida.
  Assim ando me ocupando com as coisas do cotidiano, com a rotina embriagadora, esquecendo um pouquinho de mim. Criando um medo de ir e ser tudo aquilo que eu possa ser. Trancafiando sentimentos, pensamentos, trancafiando partes minha que desconheço.

terça-feira, 1 de março de 2011




   E assim me invadi, me consome me pega desprevenida como uma tempestade cheia de ruídos e ventos, e assim você me pega de jeito, sem jeito.
  Com essas brincadeiras malvadas que nós fazemos o tempo todo, esse tipo de roda gigante, de obstáculo, voltas, sem volta.
  Com essa ânsia que passa e não passa que some e não some. Com essa vontade inesperada de ser e não ser, já sendo alguma coisa diante de tudo em sua volta. Já sendo um ser com sentimentos inventados, fazendo suas trapaças e seus jogos sujos.
  É assim menina, aprende, sossega seu coração, vai brincando como quem não quer nada, vai vivendo, sem o desespero e a agonia de quem quer. Aquieta seu coração, aceite as suplicas as doses da vida, acalma-te sua alma, se guarde da solidão. Em silêncio, por favor, chores em silêncio, abafe suas tormentas, suas tristezas inseparáveis, suas crises consigo mesma,e vai levando,levando.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010




          São com as perdas inevitáveis que a gente acaba aprendendo alguma coisa sobre a vida. Deveríamos como uma esperteza bruta aprender a ganhar e perder todos os dias nesse furacão que enfrentamos.
  E se tudo der errado, eu levanto e começo tudo de novo, me desmonto, me invento, mas jamais desistirei de tudo aquilo que eu acredito.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010



   Com os olhos sonolentos um dia eu acordei. Existia um céu, uma Terra, um sol que brilhava todas as manhãs ate então, existiam as nuvens com seus formatos engraçados, as cores do arco íris, e a chuva que caia lá fora, longe, longe de tudo, gota por gota que caia nos campos verdes.
   Um dia eu acordei, e o dia já não era o mesmo, e eu já não era a mesma, e as coisas em minha volta já não eram as mesmas. Tudo havia se modificado com uma rapidez instantânea e com uma raiva bruta e delicada. Apenas com os ruídos não entendidos de uma vida que continuava a se movimentar lá fora, como um ritmo de dança, que a gente não pode parar, caminhando com os passos uma hora lentos, e outra hora rápidos demais, de um mundo onde você precisa encaixar-se, ou ele simplesmente devora você.
   Um dia eu acordei com o sopro da brisa vindo invadir-me com uma sensação fantasiosa, insistindo em me mostrar que o tempo havia também mudado, e que como um ciclo, o presente se transformava em passado. E que mais uma fase existia em passar, como todo o resto passou, apenas guardando uma nostalgia de uma vida que passa, passageira.


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A memória tem sempre essa tendência otimista de filtrar as lembranças más para deixar só o verde, o vivo. Antigamente, sempre era melhor, ainda que não fosse. Talvez porque já esteja, lá, tudo solucionado e a gente possa se ver, no tempo, como quem vê uma personagem num livro ou filme: aconteça o que acontecer, há um fim definido, predeterminado. Essa espécie de improvisação do agora, do que está sendo moldado, causa muito mais angústia. Não temos, como no samba, a menor idéia de como será o amanhã.